O livro é uma investigação inspirada num caso policial verdadeiro. No dia 14 de julho de 2008, ao mesmo tempo em que o escritor estava numa livraria em Roma, lançando a tradução italiana de um livro, um cadáver era identificado pela polícia carioca com a sua certidão de nascimento no esqueleto de um prédio invadido na Lapa. Descobri que estava morto trata da busca de respostas numa cidade conhecida por não oferecê-las.
“É raro entendermos como são frágeis os laços que nos ligam a nossa rotina, círculo social, relações de família e trabalho. Como a nossa vida pode subitamente transformar-se no quarto vazio e iluminado onde o morto deixa para trás os sapatos ao lado da cama. Preferimos manter a crença irracional de que o desenrolar dos fatos nos levará inevitavelmente para casa, como se fôssemos moscas num pote de vidro. Mas às vezes algo acontece.”
O Torcicologologista, Excelência é um livro de ficção, irónico, capaz de fazer soltar uma gargalhada, mas também duro, composto de duas partes bem distintas. A primeira, onde o desencanto se cruza com um humor corrosivo, é composta de diálogos ficcionais, uma espécie de diálogos socráticos, entre duas personagens, os Excelências, criadas e desenvolvidas durante anos por Gonçalo M. Tavares nas páginas do Diário de Notícias. Vossa Excelência fala para Vossa Excelência e no meio do absurdo que é a existência, e a tentativa de entendê-la, os dois lá vão dissertando sobre o bem e o mal, as revoluções, o tédio, a dança e a preguiça, sobre as grandes questões e os pequenos contratempos, sobre os saltos e as quedas. A ironia, o humor e a sabotagem contínua do pensamento e da linguagem vão avançando no meio destes dois curiosos Excelências, personagens de educação esmerada e raciocínio rápido.
A segunda parte de O Torcicologologista, Excelência remete para a agitação da cidade, para os pequenos gestos e as grandes tragédias dos humanos que lá vivem. Uma tragédia acelerada em que o zoom súbito e o rápido olhar sobre os humanos coloca em primeiro plano uma personagem colectiva: a cidade - a cidade moderna, com as suas doenças, as suas obsessões e, por vezes, a sua esperança.
sábado, 24 de outubro de 2015
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