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Várias décadas passaram desde que Jean Daragane, em criança, viveu em Saint-Leu-la-Forêt. Agora, sexagenário, escritor, mal pensa nisso. Leva uma existência solitária, o telefone raramente toca, praticamente não escreve. Até que acontece um «quase nada». Como que uma picada de inseto, que a princípio parece muito leve. Esse «quase nada» é o aparecimento de uma velha agenda telefónica onde figura o nome de Guy Torstel. Arrastado para o passado, para a Paris dos anos 1950 e 1960, Daragane vai-se confrontar com a memória de Annie Astrand, que foi para ele uma espécie de mãe e, mais tarde, talvez uma amante…
José Saramago entrevistado por Carlos Reis. Um registo de testemunhos realizado durante cerca de sete horas em que o professor universitário questiona o criador de Blimunda sobre a formação, a aprendizagem, a profissão e a condição de escritor. Sobre a História como experiência. José Saramago fala-nos sobre a linguagem da literatura, os géneros literários, a narrativa e o romance, sem omitir os temas e valores, os sentidos e destinos comuns. Uma obra disponibilizada para «leitores de diversa motivação: do leitor corrente dos romances de Saramago ao estudioso da sua obra, passando pelo professor que trabalha com os seus textos e pelo estudante que (supostamente) os lê».
Dois coronéis discutem Portugal à beira duma piscina, num monte alentejano. Nada lhes escapa. Duas mulheres mostram-se, em tudo, contrárias entre si. Um jovem vedor de água e jogador de xadrez, de muito bom feitio, arroja-se por essas carreteiras no seu estafado Renault 4. Um tio misógino aconselha sabiamente o sobrinho. Soraia Marina, capitosa cantora pimba, embala as almas simples. Gil Vicente e o pote de Mofina Mendes também marcam presença. E um narrador curioso intervém com as suas perspicazes considerações, sob o olhar sempre atento de um mocho e de um melro, que assistem e, às vezes, comentam.
Não vai faltar quem me acuse de que alguns destes textos são desapiedados e injustos, que, tendo sido já politicamente inoportunos e impertinentes na própria época em que foram escritos, muito mais o vêm a ser agora, e que, argumento final, não é atitude das mais prudentes e sensatas da minha parte, considerando que todos temos os nossos «telhados de vidro», reabrir as chagas que o tempo, melhor ou pior, teve a caridade de cicatrizar. Disso, como do resto, pensará cada um o que quiser, e por isso responderá. Em todo o caso, creio que estas Folhas Políticas, de cuja honradez cívica não reconheço a ninguém o direito de duvidar, levam dentro verdades suficientes para que sejam capazes de defender-se sozinhas, sem ajuda. Nem sequer a minha.
José Saramago
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