quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Harlekino

Título: Harlekino
Autora: Tessa de Loo
Editora: Bertrand

Sinopse:
Embora seja filho de mãe holandesa, Said tem um nome marroquino em memória do talentoso tocador de alaúde por quem a mãe se apaixonou há vinte anos, e que fugiu quando soube que ela estava grávida. Agora Said decide ir à procura do pai, na esperança de encontrar uma nova identidade num novo mundo. Hassan, o amigo de infância, acompanha-o. Têm apenas uma pista: uma mercearia em Fez. A partir daí, seguem o rasto do tocador de alaúde, que os levas dos bosques de Ifrane às dunas vermelhas de Atlas. Em Marrocos, a Idade Média e o século XXI parecem coexistir lado a lado.
Os dois amigos, que partilharam na infância uma terra imaginária de que eram ambos soberanos, tentam redefinir a sua amizade. E agora uma personagem aparentemente fictícia dessa terra infiltra-se no mundo de Said, que, por sua vez, mergulha cada vez mais no fascínio do Islão. O rapaz tenta desesperadamente livrar-se daquela presença, ao mesmo tempo que diversos aspectos da sua vida atingem uma apoteose que culmina num derradeiro acto que afecta o homem e a criatura imaginária.
Uma história acerca daquilo que pode acontecer quando se dá rédea solta à imaginação, com voltas e reviravoltas que não deixarão de surpreender o leitor.

Opinião:
Por diversos motivos, a leitura de "Harlekino" foi bem mais arrastada do que gostaria. Num livro deste género, bastante descritivo, a experiência sai um pouco prejudicada, pois, dia a dia, a história vai avançando muito lentamente.
Após esta nota prévia, vamos ao que interessa!
Seguindo a busca de Said pelo seu misterioso e escorregadio pai, vamos submergindo na fascinante e pobre realidade de Marrocos profundo, auxiliados por descrições cuidadas do ambiente, sociedade e geografia. Alternadamente, a autora conta-nos a curiosa interacção na infância dos dois amigos, a criação de um país imaginário e as contradições típicas do crescimento.
Marrocos e Holanda, dois mundos bastante interligados pela imigração e cujas realidades desconhecia. Foi fascinante deixar-me envolver por elas e perceber como o Islão influencia ambos os países.
A autora não teve medo nem pudores de incluir e entrelaçar temos como a religião (e o fanatismo religioso), homossexualidade, imigração (e as ilegalidades envolventes). Tudo embrulhado numa história interessante com um remate final cheio de classe.
Reconheço todos estes méritos a esta obra, mas, pessoalmente, poderia ter tirado muito mais proveito de "Harlekino" (já agora, é uma personagem original, que podia ter tido uma presença mais vincada) se o pudesse ter lido em duas ou três tardes de sol.

Recomendo a todos os amantes de viagens, aos que não se importam de se dedicarem a livros mais extensos e aos que apreciam verdadeiramente todos os prazeres da leitura.

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