Título: A Viagem do Elefante
Autor: José Saramago
Editora: Caminho
Sinopse:
Em meados do século XVI o rei D. João III oferece a seu primo, o arquiduque Maximiliano da Áustria, genro do imperador Carlos V, um elefante indiano que há dois anos se encontra em Belém, vindo da Índia.
Do facto histórico que foi essa oferta não abundam os testemunhos. Mas há alguns. Com base nesses escassos elementos, e sobretudo com uma poderosa imaginação de ficcionista que já nos deu obras-primas como Memorial do Convento ou O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago coloca agora nas mãos dos leitores esta obra excepcional que é A Viagem do Elefante.
Neste livro, escrito em condições de saúde muito precárias não sabemos o que mais admirar - o estilo pessoal do autor exercido ao nível das suas melhores obras; uma combinação de personagens reais e inventadas que nos faz viver simultaneamente na realidade e na ficção; um olhar sobre a humanidade em que a ironia e o sarcasmo, marcas da lucidez implacável do autor, se combinam com a compaixão solidária com que o autor observa as fraquezas humanas.
Escrita dez anos após a atribuição do Prémio Nobel, A Viagem do Elefante mostra-nos um Saramago em todo o seu esplendor literário.
Opinião:
Quando foi lançada esta "Viagem do Elefante", chegou a ser anunciada como o último romance de Saramago. Ora, para quem escreve de forma tão sublime, a mão nunca encontrará descanso enquanto não pegar na pena (ou, nos nossos dias, encontrar um teclado) e imortalizar as palavras e a vida do seu dono. Então, Saramago continuou, escrevia no seu próprio espaço da Internet, presenteando-nos com o seu "Caderno" e ainda teve fôlego para atiçar algumas labaredas com "Caim", pequeno livro que caiu no país com o peso do próprio elefante Salomão.
Voltando à "Viagem": baseando-se num punhado de factos reais conhecidos sobre a oferenda de um elefante pelo nosso monarca de então ao Arquiduque da Áustria, o autor recria, com a mesma perfeição sarcástica de "O Memorial do Convento", os hábitos sociais do século XVI e o ambiente instável entre as várias monarquias. Cria um tratador de espírito aguçado e, entre outros, vários anónimos que entram em cena, recitam a sua linha magistral e retiram-se sob os nossos sinceros aplausos.
Comum a todos os seus romances, o narrador-personagem, enquanto acompanha os lentos passos da comitiva, tem tempo para cogitações sobre milagres, a relação portugueses-espanhóis, bois, reis, elefantes e os dizeres da língua portuguesa.
Romance com quilómetros de estrada e de escrita, que não se queda nas descrições,atirando-se para as ilações. A capacidade do autor de nos deslumbrar com a atenção a cada detalhe em todo o seu esplendor.
Aguardo, como muitos de vós, os ecos da sua escrita que ainda verão a luz do dia.
Bem haja, Saramago!
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