O Páginas Desfolhadas falou já sobre "O Rastro do Jaguar" de Murilo Carvalho, vencedor do primeiro Prémio LeYa.
Este ano, o contemplado com este prémio foi João Paulo Borges Coelho, autor de origem moçambicana há muito publicado em Portugal pelas mãos da Caminho.
João Paulo Borges Coelho nasceu no Porto, em 1955, mas adquiriu nacionalidade moçambicana. É historiador. Ensina História Contemporânea de Moçambique e África Austral na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, e, como professor convidado, no Mestrado em História de África da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Tem-se dedicado à investigação das guerras colonial e civil em Moçambique, tendo publicado vários textos académicos em Moçambique, Portugal, Reino Unido, Espanha e Canadá. As Duas Sombras do Rio é a sua primeira obra de ficção.
João Paulo Borges Coelho afirmou no momento do anúncio «que continuaria a escrever. Este prémio dá alento (…) Para mim, escrever não é uma profissão, mas uma diversão».
Aqui ficam os títulos do autor que a Caminho publica:
Para as famílias Odendaal e du Plessis aproxima-se a costumada e conjunta viagem de férias. Mas, este ano, à última da hora, os du Plessis, sabe-se lá por que motivo, decidiram não viajar...
Nada que impeça o casal Odendaal e os seus dois filhos de partir para Hinyambaan, com toda a bagagem necessária, no seu velho Corolla.
A viagem da África do Sul para Moçambique, na companhia de Djika-Djika, um jovem da comunidade local, expedito e arguto, a quem dão boleia a meio do percurso, promete ser atribulada e emocionate...
Será que chegam a Inhambane para as tão desejadas e repousantes férias?...Esta é uma história feita de histórias entretecidas. Histórias de guerra e de sobrevivência, de pequenos sinais de humanidade rompendo da violência como as plantas rompem das pedras.
É também uma história de divisões: divisões entre a memória e o presente, entre os deuses e os homens, entre os homens eles próprios. Divisões que crescem no espaço da grande divisão que o majestoso rio Zambeze cavou, separando o mundo da cobra feminina, milenar e sábia, e o mundo do leão masculino, jovem e fogoso — erigindo uma fronteira entre o Norte e o Sul.
Por isso sofre tanto, dividido, sem se encontrar, o pobre Leónidas Ntsato, que tem apelido de cobra mas a quem o pai deu nome de leão. E por isso se afadigam tanto os curandeiros, pedindo aos deuses que o deixem voltar a ser um só.
Esta história feita de histórias mostra que talvez os homens encontrem na ilha de Cacessemo, a meio do rio, uma ponte de união entre o mundo da água e o mundo do fogo.Tendo como pano de fundo o final de um império e o nascimento de um país, esta é a história do ocaso de duas velhas senhoras e do crescimento de um rapaz. Fechados numa pequena casa, esforçam-se os três — cada um à sua maneira — por construir uma família fora do tempo e das convenções. Mas são muitos, e fortes, os sinais que entram pelas janelas para dar sabor às suas vidas. Vindos de fora e também de trás, no tempo.
Entre um passado denso e um futuro que é uma incógnita, surge um Dr. Valdez tocando a campainha para lhes estruturar os diálogos.Neste primeiro volume dos Índicos Indícios são visitados cinco lugares do Setentrião moçambicano, e em cada lugar sucede uma estória.
Na Ilha de Moçambique há um jovem e devoto alfaiate que borda num pano encantado o itinerário que conduz à pureza.
Na cidade da Beira, um povo obstinado navega em barcos encalhados, respondendo com a imaginação e o sonho às prosaicas exigências das autoridades.
Na minúscula ilha de Santa Carolina, uma mulher vive um enredo de outros tempos e descobre com horror que há duas portas atrás das quais se escondem negras maquinações. Mais acima, na cinzenta praia de Zalala, inicia-se uma história feita de sangue, um sangue escuro e espesso que escorre pelas estradas sem fim que atravessam a Zambézia.
Finalmente, na ilha do Ibo, um homem e uma mulher caminham inexoravelmente para um encontro que nenhum deles sabe que vai acontecer.Este segundo volume dos Índicos Indícios abre com uma aventura passada no extremo sul, onde se acaba a terra conhecida.
Alguns náufragos desesperados e exangues defrontam os da terra, chefiados pelo férulo Guijana, o homem dos três dentes. Felizmente que há um chá misterioso para serenar os ânimos.Umas vezes deserto inóspito, outras um mar revolto, a Rua 513.2 oscila de um extremo ao outro sem encontrar serenidade. Todavia, se fosse tirada uma média a esses dois estados ela não passaria de uma rua normalíssima
Na Rua 513.2, o Inspector Monteiro, o Doutor Pestana e dona Aurora, o mecânico Marques, a velha prostituta Arminda de Sousa e alguns outros, emergem do passado para interferir nos dias dos vivos. Por outro lado, sob o olhar atento de Filimone Tembe, o Secretário do Partido, esses mesmos vivos fazem o que podem para que as suas vidas avancem. Vendem enquanto há o que vender, como o louco Valgy ou a incansável Judite; apelam ao conselhos de retratos pendurados na parede, como o empresário Pedrosa, pescam peixes forjados, como Teles Nhantumbo; lêem cadernos que escondem histórias de outros tempos enquanto reparam automóveis quase inexistentes, como Zeca Ferraz; combatem no mato, como o Comandante Santiago; ou distribuem pelos vizinhos aquilo que lhes chega às mãos, como Josefate Mbeve, que no fundo segue à risca as directivas do Presidente Samora Machel e tenta fazer do socialismo uma realidade.
Até que um dia chegam novos fantasmas para ocupar o lugar dos antigos, e as coisas começam a mudar.J. Mungau é detido e levado para o Campo de Trânsito, onde fica a aguardar transferência para um lugar definitivo. Será que a escolha desse lugar depende de algo que Mungau possa fazer? Ou, pelo contrário, o seu destino está marcado de antemão? Afastado do futuro por incontornáveis circunstâncias, também no passado Mungau tem dificuldade em achar o seu lugar. Enquanto aguarda, esforça-se por descobrir as relações que os que o cercam estabelecem entre si – o Professor e a sua esquiva mulher, o Chefe da Aldeia, a Desengonçada Garça, o enigmático Vendedor de Chá e o cortejo de feirantes e artistas que ali chega uma vez por mês anunciando os seus produtos e atirando ao ar as suas bolas coloridas – uma complexa teia gerida com mestria por um incansável Director.
Ao mesmo tempo, Mungau aprende que nada é mais relativo que os conceitos de justiça e liberdade.
Entretanto, o tempo escasseia e os acontecimentos precipitam-se. Os ventos da floresta trazem dados novos e não é certo que o pequeno Campo de Trânsito consiga inseri-los no ramerrão do seu funcionamento diário.
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