domingo, 20 de setembro de 2009

Entrevista com Martin S. Braun - autor de "Alex 9"

Bruno Martins Soares nasceu em Lisboa a 5 de Agosto de 1971. Passou metade da sua vida no Funchal e a outra metade na capital - que continua a ser a sua cidade de eleição. Escreve ficção desde os 12 anos e em 1994 ganhou uma menção honrosa no Concurso Nacional de Jovens Criadores, tendo vencido a edição de 1996 do mesmo concurso.

Este prémio levou-o a Turim, onde representou Portugal na Bienal de Jovens Criadores da Europa e do Mediterrâneo de 1997, e onde o seu conto «Mindsweeper», publicado originalmente em «Contos Inéditos - Selecção dos Concursos Jovens Criadores ‘96» pelo Clube Português de Artes e Ideias em 1996, foi traduzido e publicado em italiano na colectânea «Quattordici Giovani Narratori Dei Mediterraneo», pela editora Lindau.

Participou ainda nas Bienais de Roma em 1999 e na de Sarajevo em 2001. Entretanto, e em colaboração com a Associação GEIC (Grupo Experimental de Intervenção Cultural), criou uma colecção de livros de jovens autores inéditos denominada «O Homem do Saco», que deu a conhecer nomes como os de Rui Pires Cabral e Possidónio Cachapa, e onde publicou a sua primeira colectânea de contos, «O Massacre», em 1996.

Profissionalmente, é licenciado em Gestão de Empresas pela European University e é actualmente Practice Leader de Change & Internal Communications na Hill & Knowlton Portugal. A sua carreira também o levou à imprensa: colaborou regularmente com jornais e revistas tanto nacionais como estrangeiros, entre os quais o Diário de Notícias, a Ideias & Negócios, o Washington Post e a Jane's Defence Weekly (de quem foi correspondente em Portugal durante três anos).


Martin S. Braun (pseudónimo de Bruno Martins Soares), autor do mais recente título da colecção TEEN, aceitou responder a algumas perguntas do "Páginas Desfolhadas" sobre "Alex 9"!

Páginas Desfolhadas: Quais os principais motivos que o levaram a criar um protagonista do sexo feminino? Alguma inspiração em particular?
Martin S. Braun: Freud explicaria melhor, suponho. LOL.
    Acho que às vezes nos esquecemos que as heroínas de ação estiveram muitos séculos afastadas da ficção. Só muito recentemente, nas últimas décadas, é que começámos a ver com normalidade personagens femininas a enfrentarem diretamente, no mesmo pé, o inimigo. Isto terá a ver também com um novo papel que as mulheres têm ganho na sociedade. Existe, de facto, uma maior igualdade de papéis.
    Há também uma ideia de casal, uma ideia de casal equiparado e harmonioso, que se completa nas mesmas tarefas e competências, e não em tarefas e competências diferentes, que eu quero refletir em «Alex 9». O Príncipe Dael também cresce no texto e vai crescer ainda mais. Julgo que no final verão um casal de iguais, que será, provavelmente, um choque para toda a Segunda Terra, que tem uma cultura que não está habituada a isso.
    Mas, para ser franco, acho que a principal motivação foi inconsciente. Apeteceu-me. Não sei bem porquê.

PD: As descrições das batalhas corpo-a-corpo são bastante pormenorizadas. Necessitou de investigar sobre a técnica das diversas artes marciais (praticar até, quem sabe)?
MSB: Pratiquei Esgrima e Aikido durante vários anos. Ganhei com isso uma perspetiva que me foi muito útil, nomeadamente que se ganha ou perde um combate, muitas vezes, pela atitude mental e presença de espírito e não pela técnica. Se reparar, em especial no final da «Alex» , a presença de espírito e a atitude dela são o suficiente para lhe dar vantagem nos combates. Este tipo de insight pareceu-me interessante. Quando fazia Aikido aprendi que um principiante respira de uma certa maneira para fazer uma técnica, mas que um mestre faz uma técnica porque respira (vai ficar a pensar nisto, não vai? Hi,hi.).
    Mas a fonte talvez seja outra. Quando comecei a escrever, lá pelos meus doze anos, queria escrever romances de espionagem. Comecei a interessar-me por aviões e helicópteros de guerra e armas de fogo. Ainda hoje consigo identificar imediatamente a maior parte dos modelos que surgem nos filmes e na TV... As artes marciais fizeram parte dessa curiosidade e interesse. Ou seja, investigo há muitos anos o assunto, por prazer, e não especificamente para escrever este ou aquele livro.
    O mesmo se passa com os estilos de guerra. Os vários exércitos que combatem em «Alex 9» têm formas de combater que ganharam influências de vários exércitos ao longo da história. Deu-me um certo gozo compor essas influências.

PD: O novo mundo que criou é rico em novos nomes, sejam de pessoas ou lugares, ou mesmo de armas... Como vão surgindo as ideias para a criação de cada um deles?
MSB: Confesso que os nomes são um dos pontos que me deixa mais inseguro. A minha técnica preferida (nem sei se lhe devia chamar técnica – truque talvez seja mais adequado), é olhar para as lombadas dos livros no meu escritório e mudar as letras dos nomes ou trocar as sílabas. Mas não diga isto a ninguém, está bem?
    Claro que também tenho algumas características nacionais que associei a cada país da Segunda Terra. «Remmon», por exemplo, é um pouco afrancesado, de modo que as cidades têm nomes como «Casselet» ou «Brilant». E os tshiu são achinesados, e assim os nomes de «Wa-Tsu» ou «Tchi-Mu».
    Quanto às armas, fui, parece-me, menos original. A «shifa» de Garic de Cary talvez seja a mais original, mas inspirada nalgumas armas medievais.
    Não tenho dúvida que as armas magnéticas e os lasers serão o futuro das armas de mão. Hoje já se projetam armas magnéticas, o que eles chamam «rail guns», parece-me, para colocar em navios, etc. Os projéteis são «espremidos» como uma banana a sair da casca por forças magnéticas e são projetados a uma velocidade muito maior e com muito maior alcance que os projéteis modernos, sem necessidade de qualquer cartucho, e com um impacto muito mais forte. Os escafandros-armaduras e os tanques pessoais são influências clássicas do Manga.

PD: Que títulos e autores dentro do género escolhe como inspiração para a criação do enredo? E para si, algum autor de referência?
MSB: Tarefa ingrata, esta de escolher inspirações... Deixe-me lá ver... Não tenho dúvidas que o cinema, o Anime e o Manga, bem como a BD americana dos anos 90 são grandes inspirações. Sou um fã da «Canção do Gelo e do Fogo» de George R.R.Martin e também tenho de referir Anne Bishop, que só conheci mais recentemente mas que me impressionou imenso. Gosto muito de Bernard Cornwell, também, mas não de tudo.
    Se olhar para a página da «Alex 9» no Facebook talvez fique mais elucidado quanto às inspirações do que propriamente com a resposta que lhe dei. Estas novas plataformas dão essa oportunidade, de nos expressarmos com filmes e citações, não é verdade?

PD: Obviamente que estamos ansiosos pela continuação da história de "Alex 9". Já existe data prevista para lançamento do segundo volume?
MSB: Não. Sorry...

PD: Talvez seja cedo para esta pergunta, pois "A Guardiã da Espada" foi editada muito recentemente, mas pode levantar já um pouco o véu do próximo livro?
MSB: Posso. The plot thikens, como dizem os americanos. Começa a perceber-se melhor a magnitude do impacto da chegada de Alex à Segunda Terra e dos enormes estratagemas criados por vários intervenientes que levaram a todos os acontecimentos do primeiro livro. Mas, claro, o evento central será o re-encontro de Alex com Dael, que, julgo, terá contornos inesperados.
    Deixe-me voltar um pouco atrás, a outras perguntas que me fez. Tanto George Martin como Anne Bishop escrevem sobre personagens femininas muito fortes. Mas Martin fá-lo de forma manifestamente masculina e Bishop de forma manifestamente feminina. Basta comparar Daenerys com Jaenelle. Martin escreve deliciosamente, e Daenerys é muito feminina, mas age pela força das armas e das decisões perentórias. Ou seja, tem uma força masculina. Por seu lado, Jaenelle age pela força das relações e das emoções. É mais feminina.
    Sem dúvida que Alex surge no primeiro volume com uma força muito masculina. Ela enfrenta as situações com a atitude: «Meteram-se com a miúda errada.» Tem, inclusive, pelo seu caráter, uma certa dificuldade em lidar com as relações humanas. Ela nunca vai mudar a sua personalidade, mas ao longo do próximo livro gostava de desvendar um pouco mais as suas vulnerabilidades, que depois se tornarão em forças no terceiro livro. Pelo menos esse é o plano.

PD: A história de Alex 9 está pensada para quantos volumes?
MSB: Seis ou sete... Mas recentemente vingou o bom senso de a tornar uma trilogia que, a verdade seja dita, melhorou consideravelmente a história. Quando estamos tão imersos num mundo e tão apaixonados pelas personagens, por vezes corremos o perigo de nos perdermos e estarmos a dar importância a coisas que não têm importância nenhuma. Quando reduzimos o espaço de escrita, obrigamo-nos a focar, e esse processo foi ótimo! Hoje, o projeto é uma trilogia e estou muito contente com isso.

PD: A Internet é, cada vez mais, o meio privilegiado de divulgação. Sabemos que tem usado o Facebook. Como tem sido o contacto com a comunidade on-line?
MSB: Muito estimulante! Julgo que ainda será mais, agora que o livro saiu. Mas a possibilidade de trocar impressões com as pessoas sobre influências e juntar imagens às ideias que associei à «Alex» é bastante interessante!
    Ao mesmo tempo, consegue-se um feedback muito mais rápido sobre os estímulos que disparamos para o exterior, como o próprio livro. E isso é ótimo.
    A página do Facebook da «Alex» dá-me muito gozo e convido-vos todos a tornarem-se fãs. Para lá chegarem basta pesquisarem «Alex 9» no Facebook ou no Google que logo encontram.
    Tenho algumas cartas na manga para o Facebook que, se se concretizarem, vão ser muito divertidas.
    E estou muito impressionado com a energia do Fórum Bang! da Saída de Emergência.

PD: Poderemos contar com Martin S. Braun para mais "Fantasia", depois de "Alex 9"? Será este o seu género de eleição?
MSB: O Martin S. Braun só vai escrever scifi-fantasy e tem muito que escrever ainda! Tenho ideias muito preliminares para uma segunda trilogia da «Alex 9» e para um romance chamado «Tar-Kur». É trabalho para vários anos. Se tudo correr bem...
    Mas o Bruno Martins Soares também vai escrever outras coisas.’ Não-escrever ‘ é impensável para mim. Com um pouco de sorte, terei a oportunidade de publicar de vez em quando.

PD: Pensa que a colecção TEEN poderá ser um novo fôlego na literatura fantástica nacional e na divulgação de autores portugueses para o público em geral?
MSB: A TEEN é uma pedrada no charco, o que é algo que a Saída de Emergência nos tem vindo a habituar. Acho que esta é uma aposta ganhadora, sim! E estamos todos na expectativa quanto ao verdadeiro impacto que poderá ter, suponho. O pouco que já li dos meus colegas de coleção deixa-me muito otimista.

PD: Muito obrigados pela disponibilidade! Se houver alguma coisa que queira acrescentar, esteja à vontade!
MSB: Obrigado eu. E espero que toda a gente goste de ler a «Alex 9 – A Guardiã da Espada» pelo menos tanto quanto eu gostei de a escrever. Se quiserem deixar-me a vossa opinião, sugestão ou simplesmente contactar comigo, venham ao Facebook e procurem «Alex 9». Não é difícil!

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