CUIDADOSOS DESCUIDOS
Cuidar na escolha: afiado lápis
que o bico rombo rasga-me as palavras
mas tão macio que eu as possa romper
quando preciso.
Cuidar na folha: vagaroso brilho,
pronta para o desenho em nota, à margem:
que tenha humor de verdadeira folha.
Depois vem o pior
que não escolhi —Como diz Maria Andresen Sousa Tavares, no Prefácio a esta edição, há «poetas mais peritos, mais cultistas, mais destros e liricamente sofisticados, mais modernos, mais antimodernos e pós-modernos, melhores pensadores. Mas aqui há uma força. Uma força muito raramente atingida. Há o vislumbre de um excesso não muito cauteloso, umas vezes iluminado, outras vezes rouco ("às vezes luminoso outras vezes tosco"). Mas há, sobretudo, o poder de uma simplicidade difícil de enfrentar, por vezes inconfortável, não pela dificuldade conceptual, mas porque a simplicidade é a coisa mais complexa e, neste caso, a mais difícil, porque nem sempre oferece o flanco ao diálogo, quando busca o "dicível" do esplendor e do terror […].»
Partindo de uma enigmática personagem de Jacques le Fataliste, de Diderot, este livro de Adília Lopes tem sido, no conjunto da sua obra, um dos mais traduzidos e estudados, em Portugal e no estrangeiro, e surge agora numa edição que deliciará miúdos e graúdos com os desenhos mordazes e surpreendentes de Pedro Proença.
sexta-feira, 1 de maio de 2015
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