Em 2284, a Europa é maioritariamente composta por Baldios governados por clãs guerreiros que escravizam as populações esfomeadas; subsiste, porém, um território isolado por um cordão de segurança com uma sociedade que, por via da ciência e da tecnologia, atingiu um nível altíssimo de felicidade individual, pois todos os desejos podem ser consumados, ainda que mentalmente. Nesta Nova Europa, as relações sexuais são livres e não se destinam à procriação: as crianças, desconhecendo os pais, nascem nos Criatórios em placentas sintéticas e seguem para Colégios onde, sem a ajuda de livros, andróides especializados incrementam as suas competências como futuros Cidadãos Dourados. As famílias reúnem-se por afinidades, ninguém trabalha e nem sequer existem nomes, para que ninguém se distinga, já que todas as conquistas se fazem em nome da comunidade. Vinte e cinco anos depois da queda do Muro de Berlim, Miguel Real constrói uma utopia sublime no contexto de um novo paradigma civilizacional, revelando o seu talento de escritor e filósofo e, ao mesmo tempo, chamando a atenção para o esgotamento da Europa actual.Publicado pela primeira vez em Janeiro de 1965, Praça da Canção, o primeiro livro de Manuel Alegre, escrito no exílio, marcou várias gerações de leitores e, para além disso, contribuiu de forma decisiva para o derrube da ditadura, sendo considerado, portanto, um símbolo da luta pela liberdade. 50 anos depois, a Dom Quixote assinala esta efeméride com a publicação de um livro emblemático, prefaciado por José Carlos de Vasconcelos, que o descreve assim: “Praça da Canção, de Manuel Alegre, há muito ultrapassou as fronteiras da literatura para assumir uma dimensão simbólica ou mesmo mítica (...) Os versos de Praça da Canção andaram, desde sempre, de boca em boca, de mão em mão, de coração em coração, em simultâneo singular expressão individual de um poeta e vigorosa voz coletiva de um povo.”
Com um Sonho na Bagagem é em primeiro lugar o relato de uma viagem que Luigi Pirandello fez a Portugal em Setembro de 1931. O pretexto foi o convite para participar, na qualidade de hóspede de honra, no V Congresso da Crítica Dramática e Musical que António Ferro organizou em Lisboa com a extravagante e engenhosa ideia de o tornar «itinerante», de modo a destacar Portugal na ribalta da imprensa internacional.
O livro de Maria José de Lancastre, fruto de cuidadosas pesquisas em arquivos públicos e privados e rico em documentos inéditos, relata um importante acontecimento cultural hoje esquecido onde, paradoxalmente, se debateu a liberdade de opinião e a independência da crítica num país que estava à beira da ditadura.
A viagem de Pirandello, aparentemente ocasional, torna-se assim um acontecimento relevante e, para além de um encontro entre duas culturas, é também motivo de uma análise comparada entre duas poéticas e duas visões da vida geograficamente e linguisticamente distantes, mas substancialmente e intrinsecamente contíguas.
domingo, 18 de janeiro de 2015
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