quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

As Intermitências da Morte

Título: As Intermitências da Morte
Autor: José Saramago
Editora: Caminho

Sinopse:
«No dia seguinte ninguém morreu.»
Assim começa este romance de José Saramago.
Colocada a hipótese, o autor desenvolve-a em todas as suas consequências, e o leitor é conduzido com mão de mestre numa ampla divagação sobre a vida, a morte, o amor, e o sentido, ou a falta dele, da nossa existência. 

Opinião:
"No dia seguinte ninguém morreu" é provavelmente uma das frases iniciais mais emblemáticas e mais entusiasmantes. É o pressuposto básico virado do avesso, que dá a forma inicial a este romance e que deixa espaço aos pormenores de génio do autor.
As vantagens da ausência da morte parecem múltiplas e infindáveis, mas com alguma reflexão facilmente percebemos que os problemas serão bem mais intermináveis. E é nesses que Saramago se apoia para destruir o idílio da vida eterna, página a página. Nesta primeira parte do livro, não existe um sujeito único, o foco está na comunidade, unida pelo omnisciente narrador. Ouviremos políticos, o Rei, padres, médicos e o povo. Conheceremos os seus pensamentos e facilmente nos vamos identificar com os seus dilemas morais.
O romance entra numa segunda parte, quando a morte passa de ausente a presente e decide voltar a exercer o seu ofício, mas avisando uma semana antes aqueles que vão ser colhidos pela foice. Assim, ninguém se pode queixar que a vida terminou de repente, sem poder fazer isto ou aquilo. A questão é que nem assim as pessoas estão satisfeitas...
Quando um violoncelista escapa das garras da morte, esta decide vestir as mangas, arregaçá-las e misturar-se no nosso dia-a-dia.
Temos, assim, um romance de várias dimensões, de reflexões eternas sobre a morte, a vida, o silêncio, as palavras.
Mais um incontornável romance de um autor cujas palavras escaparam à carta da morte.

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