Lisboa aos poucos transformava-se. Na viragem do século, entre 1890 e 1914, a capital portuguesa, impulsionada por uma burguesia cada vez mais endinheirada, vivia fascinada pelo glamour parisiense. Eram os últimos dias de uma Lisboa romântica e o nascer de uma cidade moderna e civilizada, uma transformação feita a conta-gotas e marcada por alguns episódios trágicos. As senhoras vestiam os últimos figurinos da moda francesa, deixavam-se levar pelos cheiros dos perfumes e outros produtos de beleza e higiene chegados de fora. Os modelos das roupas, gestos e comportamentos eram as grandes senhoras da Cidade das Luzes. Os homens enchiam os cafés do Chiado e divertiam-se nos seus teatros, o São Carlos estava sempre esgotado e o serão era feito de copos, guitarras e das animadas largadas de touros. A Avenida da Liberdade era o novo local para esta burguesia culta e abastada ver e ser vista, depois da triste demolição do Passeio Público. Os poucos automóveis que circulavam nas ruas da capital cruzavam-se com os burros e carroças das classes populares famintas e iletradas que viviam nos arredores pobres e sujos. Longe do desenvolvimento das grandes capitais europeias, a cidade iluminava-se com a chegada da eletricidade, nas casas os mais abastados instalavam os primeiros telefones, o animatógrafo era a novidade que todos queriam ver. A caminhar para a modernidade, Lisboa sofria, ao mesmo tempo, com o desaparecimento, de forma trágica, de algumas das ilustres figuras da sua cultura, tentava recuperar a custo das consequências sociais e económicas de um ingrato e humilhante ultimato inglês, e via gorada uma primeira revolta republicana, sendo obrigada a esperar quase vinte anos até assistir à destituição da monarquia. Paula Gomes Magalhães retrata, neste livro amplamente ilustrado, a vida quotidiana de Lisboa, na Belle Époque, uma cidade feita de contrastes. De luzes, boémia, glamour e alguma tristeza.
A notícia atingiu-me como um raio: o meu pai tinha falecido, tinha partido para sempre. Não estava preparada para o que estava a acontecer. Depois da morte da minha mãe, passados dois anos, era o meu pai que me deixava… Sentia que não ia aguentar, que não tinha forças para suportar mais esta perda num tão curto espaço de tempo. Como ia conseguir levantar-me, olhar a vida de frente e arranjar coragem para continuar? Para abraçar as minhas filhas, para apoiar o meu irmão, para continuar a acreditar que a vida ainda merecia ser vivida?
Com a morte da minha mãe senti que um pedaço de mim me tinha sido arrancado. Acompanhei a sua doença, mas nunca acreditei que ela pudesse morrer, mesmo quando a vi fraca e cansada. Não estava preparada. Naquela altura pensei que nunca poderia sentir uma dor maior do que aquela. Mas estava enganada… A vida mostrava-me que era possível uma dor mais profunda: a de quem perde o pai e a mãe.
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
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