domingo, 28 de setembro de 2014

As Fogueiras de Deus

Título: As Fogueiras de Deus
Autora: Patricia Anthony
Editora: Saída de Emergência

Sinopse:
Um romance fantástico sobre estranhas aparições no Portugal medieval... e o que a Inquisição está disposta a fazer para as combater
Em Portugal, onde a Inquisição é a única detentora da verdade, o padre Manoel Pessoa começou a escutar estranhas confissões dos habitantes de Quintas, um povoado perto de Mafra. Falam de inexplicáveis luzes no céu... De anjos que se deitam com as mulheres da aldeia... De virgens que dão à luz.... Mas o mais estranho é que algumas pessoas, incluindo Sua Majestade, o rei Afonso, viram um navio em chamas a cair dos céus. Do seu interior surgiram criaturas fascinantes no seu silêncio e grandiosas na sua estranheza. Serão anjos com a palavra de Deus? Ou serão demónios enviados para desviar as pessoas da verdadeira fé? Inquisição está determinada a descobrir a verdade.. e talvez não falte muito para que o cheiro das suas fogueiras se espalhe pelo reino. 

Opinião:
"As Fogueiras de Deus" foi o título escolhido pela Saída de Emergência para o Desafio de Verão deste ano. O requisito de se tratar de um livro de grande qualidade mas que tenha passado desapercebido parecia encaixar na perfeição a este título de Patricia Anthony.
A autora é de origem americana, mas viveu alguns anos do Brasil, e talvez tenha sido tocada pela riqueza da História Portuguesa, inspirando-a a escrever sobre a presença da Inquisição no nosso país, durante o reinado de Afonso VI. Este não será, no entanto, apenas um romance histórico. Como é transversal na sua obra, a autora mistura géneros e junto o Fantástico ao Histórico, numa união surpreendente.
A acção alterna entre a gestão das questões inquisitoriaisda aldeia de Quintas pelo padre Manoel Pessoa e a gestão das questões do país pelo rei D. Afonso VI. A missão do padre Manoel já parece espinhosa à partida, sendo o representante da Inquisição, sem acreditar verdadeiramente nos valores pregados e procurando apenas sobreviver e passar despercebido. Tudo se complica quando os habitantes começam a presenciar milagres e surgem criaturas desconhecidas vindas dos céus. Assistimos à batalha interior entre cumprir as suas obrigações e a relutância em atear o fogo das Fogueiras de Deus.
Já o nosso rei, dadas as suas limitações mentais, é quase literalmente levado ao colo nas suas funções, mantendo uma honestidade desarmante num país em reboliço político constante. 
Os caminhos de ambos cruzar-se-ão, onde a Fantasia encontra a História.
Há suficientes factos históricos e personagens verídicas para tornar a narrativa coerente e credível, mas o que a abrilhanta é o toque de humor presente em quase todas as personagens, assim como uma dilacerante crítica social.

Um romance como poucos, que consegue unir dois géneros distintos na perfeição, usando o imaginário para vincar os traços da realidade.

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