«São Cadernos espelhados uns nos outros, de algum modo autónomos, embora estejam interligados. Vêm de vários tempos, circunstâncias e lugares, como já acontecia em CADERNOS I - Os guarda-chuvas cintilantes, podem encaixar-se como matrioscas ou fugir em todas as direções como fagulhas. Formarão, eventualmente, no fim, uma constelação? Não tenho nenhuma certeza. Até porque nunca os poderei dar por terminados, serão sempre um contínuo interrompido, folhas de papel à solta, voando ao sabor do vento, que não me obedecem nem se deixam prender por mim. Pedaços de mundo em que tropeço como se tropeçasse em pedras, que não têm outro sentido para além de existirem, puro acontecer, em estado bruto.»
«”Quanto a O Condottiere, merda para quem o ler.” Leitor, sê bem- -vindo… Este breve jato de agressividade diz, à sua maneira, o azedume de Georges Perec, tão dececionado, neste mês de dezembro de 1960, pelo facto de o seu manuscrito ter sido recusado. Quanto ao futuro, evita insultá-lo: “Deixá-lo como está, pelo menos de momento. Retomá-lo daqui a dez anos, altura em que isto se tornará uma obra-prima, ou esperar no túmulo que um fiel exegeta o encontre numa mala velha que te pertenceu e o publique.” Uma vez mais, Perec acertou em cheio. O Condottiere é uma obra de juventude, aguda e surpreendente – e «isto» deu obras-primas, de tal forma ela contém o núcleo dos grandes textos que lhe são posteriores. Retomados, repensados, aqui encontramos os traços que dão a sua energia a livros tão diferentes como Um homem que dorme ou A vida modo de usar.»
quarta-feira, 24 de abril de 2013
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