Narrativa simultaneamente poética e alucinante, Estorvo constitui uma grande metáfora do Brasil e, porventura, do mundo contemporâneo. Uma das mais sólidas obras da literatura brasileira dos últimos tempos.Com este romance epistolar, Antonio Tabucchi renova uma ilustre tradição narrativa, subvertendo, muito embora, os códigos e pervertendo o género. Com efeito, apercebemo-nos progressivamente de que alguma coisa “não bate certo” nestas missivas: a paisagem parece resvalar sob os nossos olhos, os destinatários parecem errados, os remetentes desapareceram e os tempos inverteram-se, como se o antes e o depois tivessem trocado de posição e as cartas se antecipassem ou se atrasassem relativamente à própria mensagem que transmitem; como se os destinos dos homens, como manda o Mito, continuassem desencontrados, como se as palavras se perdessem no ar e as pessoas se extraviassem no labirinto das suas curtas existências.
Como se a vida fosse um filme perfeito e impecável em que só a montagem falhou.É o mais internacional dos escritores brasileiros. Exímio contador de histórias e senhor de uma escrita de grande força dramática e lírica, as personagens dos seus romances são hoje figuras inesquecíveis. Aplaudido pela crítica especializada e pelos leitores desde a sua estreia nas letras, em 1931, Jorge Amado viu a sua posição definitivamente firmada no panorama literário brasileiro com o lançamento de Jubiabá, uma história sobre a vida dos negros e da gente humilde da sua querida cidade de Salvador.
Antônio Balduino, a sua figura central, tornou-se uma das personagens mais populares da novelística do país, e Jubiabá foi o trampolim que projectou Jorge Amado no estrangeiro, através de uma série impressionante de traduções.
A reconstrução da identidade imaginária de um dos heterónimos do poeta Fernando Pessoa constitui o mote do livro O Ano da Morte de Ricardo Reis, publicado em 1984, um dos melhores romances de José Saramago. Ricardo Reis, tal como título deixa prever, é a personagem central do livro. A acção situa-se historicamente nos anos 30, época de plena consolidação da ditadura salazarista.
Partindo das pistas biográficas de Ricardo Reis registadas pelo próprio Pessoa – um médico que se expatriara desde 1919 no Brasil, por motivos políticos – Saramago imagina a personagem no seu regresso a Portugal em Dezembro de 1935, descrevendo o seu quotidiano nos nove meses anteriores à sua morte. Ricardo Reis chega a Lisboa, aluga um quarto de hotel e depois um apartamento, envolve-se com duas mulheres, Lídia e Marcenda, é seguido pela polícia, além de receber sucessivas visitas do falecido Fernando Pessoa, o que contribui para acentuar o ambiente de irrealidade da acção.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
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