domingo, 13 de janeiro de 2013

A Vida Antes do Tempo

Título: A Vida Antes do Tempo
Autora: Cátia Lopes dos Reis
Editora: Alfarroba

Sinopse:
O meu nome é Cátia, nasci na Charneca da Caparica, em Almada, em Fevereiro de 1985.
Sou enfermeira de profissão, trabalho na Urgência do Instituto Português de Oncologia de Lisboa e sou pós-graduada em Gestão de Serviços de Saúde pelo INDEG/ISCTE.
Em Setembro de 2010, após uma crise conjugal resolvida, eu e o meu marido Vasco decidimos empreender uma nova etapa na nossa vida, a de sermos pais. Mas o sonho tornou-se pesadelo, quando o nosso filho Afonso nasceu de apenas 23 semanas e 6 dias de gestação.
Quando as perdas se sucedem, a perda de sonhos, da perfeição, da vida como a conhecíamos até então, sobrevivemos juntos a 123 dias de internamento em duas Unidades de Cuidados Intensivos de Neonatologia.
Acompanhada à distância por uma confidente muito especial, a Ilídia, mãe de uma prematura que nasceu de 23 semanas e 5 dias, hoje com 14 anos de idade, conto a nossa história. Como forma de tentar escapar a um surto de loucura iminente, encontrei o meu escape, relatando sob a forma de um diário o meu dia a dia, as dúvidas e os sentimentos de uma época em que vivi algures entre a esperança e o desespero.
Ao longo deste doloroso percurso, existiram momentos-chave, de loucura, de pânico, de esperança e de dormência. As questões da vida e da morte, da prematuridade extrema, abaixo do limiar da viabilidade, os nossos valores, as nossas crenças foram levados ao limite na derradeira decisão da nossa vida, deixar partir o Afonso em paz.
Dois testemunhos de vida, semelhantes no seu percurso, diferentes no seu final.
Desafiando as estatísticas, as lógicas da ciência, lutando contra os nossos próprios demónios e contra os das equipas de saúde, expiamos assim a nossa culpa, a nossa dor e as nossas memórias. É o meu legado, o legado de outra mãe prematura, o legado dos nossos filhos, para que outras mães prematuras sintam que não estão sozinhas nesse sofrimento atroz.

Opinião:
A temática de "A Vida Antes do Tempo" diz-me bastante, não em termos pessoais, mas profissionais. Assim, não terá sido de estranhar que, depois de tomar conhecimento deste livro, tenha sido assaltada por uma grande vontade de o ler. E foi o que fiz, assim que pude. 
Este é um livro sobre dor. Cátia e Ilídia partilham as mesmas mágoas à distância de 300 quilómetros e com uma década entre situações muito semelhantes. A interrupção de um projecto tão importante na vida de qualquer ser humano, como é a maternidade/paternidade, de forma abrupta e rodeada de incertezas justifica este texto, e justificará muitos outros, uma vez que se trata de um sofrimento imensurável.
Ler "A Vida Antes do Tempo" trouxe-me luz sobre este tópico em numerosos aspectos. Tornou-se mais fácil compreender a posição destes pais, o lugar em que se encontram, tão difícil de aceder de outra forma. Mas também me mostrou como esse lugar, onde os pais parecem ficar reféns, lhes tolda a razão. Não raras vezes, durante o relato, a autora tece afirmações não fundamentadas e, muitas vezes, injustas, sobre os profissionais de saúde que acompanham o seu filho. Sem deixar de dar valor a um testemunho desta natureza, coisas como "só espero que não me infetem o miúdo" não deviam ser publicadas. A própria autora, como profissional de saúde, saberá melhor do que isso.

A leitura deste livro deve ser acompanhada de uma grande dose de coragem. A tristeza e frustração demonstradas persistentemente, que acredito relatarem fielmente o estado de espírito do casal, tornam-se inicialmente dolorosas, e mais tarde cansativas, o que para um leitor menos recetivo poderá desmotivar. No entanto, se há algum contacto com uma situação semelhante, esta será uma leitura que trará um novo olhar sobre a mesma, pelo que pode valer a pena.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Agradeço o tempo que dedicou a conhecer a obra.

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  3. Tal como indica, o livro é um testemunho, não um livro técnico.
    Para que não hajam equívocos, não posso deixar de responder a algumas das ideias que deixou escritas na sua apreciação.
    Esta é uma história de vida, ou antes uma lição de vida, enquanto mãe E enquanto profissional de saúde. Porque efetivamente estando no papel de mãe, a autora não se desligou do papel de profissional e do olhar critico de quem vê a profissão do lado de fora, com conhecimento de causa. E este olhar é diferente no saber e é diferente na apreciação, tantas coisas que escapam aos profissionais de saúde na prática do dia a dia, por estarem desligados, empedernidos, desmotivados com a profissão que não têm a noção do impacto causado nos que cuidam.
    Não sei como tem conhecimento de causa para afirmar que são injustas as palavras com que certas situações são retratadas. Infelizmente o semi-endeusamento dos profissionais e falta de uma análise auto critica acurada levam-nos a um distanciamento enorme entre a prática e a sua visão das coisas. A assimetria de informação não é uma invenção, é sim, um fenómeno estudado e real.
    É verdade que o discurso entra em loop a páginas tantas, é verdade que será desmotivante eventualmente para o leitor, mas se não conhece este discurso em loop dos pais, enquanto profissional de saúde desta área, mostra o quão alheado está da realidade.
    Maiores votos de sucesso pessoal e profissional.

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  4. Olá Cátia Lopes;

    Não tem de que agradecer. Aprendi bastante com a obra.


    Olá Vanessa Neves;

    Tenho conhecimento de causa no que a situações do género diz respeito, mas não em termos pessoais. Este foi o móbil que me levou a abrir o livro, e dispor-me a lê-lo. Por esse mesmo motivo, não me pareceram justas algumas das afirmações feitas. Desmotivação, distanciamento, assimetria de informação... tudo isso é real, tudo isso acontece, por melhores que sejam os profissionais. Não era a esse tipo de afirmações que fazia referência. Por umas quantas vezes a autora insinua a existência de má prática, tal como na afirmação que transcrevi, e é este tipo de afirmações que não me parecem correctas. Percebo que em contexto de desespero afirmações do género surjam, mas este texto foi publicado à posteriori, e muito provavelmente visto e revisto enquanto estava a ser montado, Não há desespero que justifique. As infecções não são provocadas, elas acontecem.

    Boas leituras!

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