segunda-feira, 12 de abril de 2010

Maníacos de Qualidade

Título: Maníacos de Qualidade
Autora: Joana Amaral Dias
Editora: Esfera dos Livros

Sinopse: 
Antes de fugir para o Brasil, D. Maria I já se encontrava louca. Passava por períodos de frenesi e supunha que o seu próprio corpo estava oco. No Rio de Janeiro, imaginava que o Diabo se escondia no Pão de Açúcar. Como foi que a vida sexual de D. Afonso VI e os seus órgãos genitais acabaram escrutinados num tribunal que ambicionava demonstrar que o soberano era impotente, louco e incapaz de governar? Hoje é possível entender os bastidores das acções destes monarcas?

O Marquês de Pombal encontrar-se-ia tão obcecado com os jesuítas que só admitia conversas que os visassem. Entre os muitos que encarcerou e matou, conta-se o padre Malagrida. Qual dos dois era menos equilibrado? O iluminista que do beato fez herege para o queimar na fogueira ou o roupeta-preta que assumia a autoria de milagres e exorcismos? Um dia, Antero de Quental sentou-se num banco de um jardim público e deu dois tiros na cabeça. Porque foi que esse poeta-herói encerrou assim a sua vida? Fernando Pessoa revelou, desde cedo, uma grande preocupação com a sua própria sanidade mental, adoptando diferentes classificações psiquiátricas para si mesmo. Estaria louco ou apenas com medo?

A psicóloga clínica Joana Amaral Dias traça o retrato psicológico destas e de outras personagens tidas como loucas. Baseada numa investigação histórica cuidada e na leitura de escritos e registos biográficos e autobiográficos – cartas, diários, etc. -, a autora revela-nos a dor psiquíca destas figuras, bem como o seu respectivo diagnóstico clínico.

Opinião:
É difícil saber o que vamos encontrar nas páginas de "Maníacos de Qualidade" antes de mergulharmos na sua leitura. O objectivo do livro está bem patente na sinopse, mas fica a dúvida de como a autora tenta atingi-lo.
Curiosamente, a construção do quadro clínico de cada "personagem" é única! Existe um relato na primeira pessoa e outro simulando uma sessão de psicoterapia, por exemplo.
Em termos históricos, é notória a meticulosa pesquisa a que Joana Amaral Dias se dedicou, tanto no que toca a factos como a avaliações psicológicas de diversos autores que a precederam. Descobri imenso sobre os visados e até me fez alterar a imagem mental que fazia do Marquês de Pombal ou de Fernando Pessoa.
A escrita é cuidada, utilizando um mínimo dos habituais e obscuros termos clínicos e com uma ponta de ironia subjacente.
Procedendo à avaliação psiquiátrica, a autora aponta a suspeita mais forte do diagnóstico, baseando-se nos factos que descreveu e ponderando o que de diferente seria feito nos dias de hoje. Fiquei eu a pensar, será que teríamos "Mensagem" se Fernando Pessoa tivesse sido "tratado"?
Em conclusão, são várias avaliações psiquiátricas sobrepostas em breves biografias, que poderiam ter contado com um pouco mais de arrojo, apesar de nada haver a dizer sobre o rigor histórico e as conclusões fundamentadas.

Na minha opinião, bastava a leitura do texto de Fernando Pessoa para o livro já valer a pena, portanto, para quem gosta de conhecer a História para lá dos manuais, recomendo!

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